quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

ne me quitte pas

[...] Ne me quitte pas/ Je ne veux plus pleurer/ Je ne veux plus parler/ Je me cacherai là/ À te regarder/ Danser et sourire/ Et à t'ècouter/ Chanter et puis rire/ Laisse- moi devenir/ L'ombre de ton ombre/ L'ombre de ta main/ L'ombre de ton chien/ Ne me quitte pas.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

finda-se

E as flores não mais expulsam os seus odores. Não mais porque morreram. Só. Eram vívidas de suas cores e cheiros. Porém, não mais são. São pútridos detritos de uma réstia de beleza. Decompostas pelo tempo; apenas. E no seu interior, só lhes resta as cicatrizes da letalidade, porque o regozijo não mais existe. Evacuou. Não volta mais. Nunca. Não. Foi-se.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Caro destinatário,

Das antigas cartas que lhe enviei estive pensando se. Se todas aquelas verborréias eram verídicas; se aquele lirismo não era momentâneo; se aquelas utopias não eram apenas... Se não eram apenas ilusões previstas pelo meu subconsciente; minha psique. Juntei esses e mais alguns questionamentos sobre os antigos sentimentos, os antigos afetos. Não cheguei à conclusão alguma. Nenhuma mesmo. Apenas continuei a pô-las no papel, a jogá-las na dispensa de lixo, a deixá-las entre as pastas; apenas.

Auto-infringi-me. Resignei-me, eu, a ter um futuro hipocondríaco sem a proximidade do teu semblante; sem o olhar que estagna; sem os calafrios que permitem a compreensão da paixão; do afeto. Não sei. De um sentimento multi sintomático. Perdi a minha sobriedade por alguns instantes, porém, pus-me a pisar no real; no palpável; no visível. Voltei a pensar nas cartas anteriores. Foram tão verdadeiras, porém, tão utópicas– ao menos naquele momento. Coloquei-me, novamente, a verificar os antigos verbetes palrados a ti. Não lhe falei olho à frente de olho; nem corpo; nem mente; nem vísceras. Isso foi um erro; uma fraqueza. O real é que desde o início foi um erro. É muita responsabilidade por nas mãos de alguém que nem se tem intimidade a obrigação de fazer-me feliz. Nada é tão nocivo quanto à sensação de perda; de solidão; de desprezo. Portanto, caro destinatário, dê tudo de si a mim ou, por favor, dê-me nada. Não ouse querer-me pela metade. Com meias palavras, meios tons, meio gestos. Isso seria cansativo de mais; desgastante de mais.

Esta pode ser mais uma daquelas cartas que apenas vão. Que são levadas bela brisa e não tomam o caminho de volta. Também não sei se isso importa. Então, caro destinatário, faça o que lhe for conveniente, o que lhe for de interesse. Pode ser esta, a última carta que lhe envio; a última publicação das íntimas entranhas que sacrifico a ti. O fôlego já me falta; o estado de consternação já me foi tomado. Entre inflamações e regelações o meu tato não mais permite que eu escreva façanhas desconexas e juras desprezadas, por ti, caro destinatário.

Abraço, Té.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

dos intragáveis tons e semitons

Via-me divagando soles, dós, rés, mis e uma infinidade de sonoridades que me excitavam; é, aquilo tudo me fazia ferver o sangue. Eram variáveis de um sequência sonora incorreta; conjunto de notas que me angustiavam pela sua dificuldade ou pela minha incapacidade de concluí-las. Pus-me, portanto, a dobrar a língua, em forma de “U”, para singularizar àquela nota que insistia em trazer consigo ruídos de notas anteriores ou, quem sabe, de intransigências consequentes da minha falta de calma; falta de controle motor. Ouvia-se, naquele conjunto de sopros, uma constante ausência de praticidade ao manusear o tal instrumento aliado ao desejo de se concluir um "Let it be" ou um "Bends". Voltei a soprar a desejada caixa de som que não passava de meio palmo, ou mais. Voltei a expor uma infinidade de memórias que se acumulavam ao se escutar aquela música; aquele Blues, mesmo que ingênuo; novato. Quis-me, eu, retroceder os ponteiros do relógio para ver se aquelas lembranças enfileiradas na minha garganta seriam expelidas. A música as trouxe, novamente, porém, os ponteiros, não andaram no sentido anti-horário.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

medita-se

Seria ingenuidade afirmarmos com destreza que somos valentes a ponto de não mais querermos amar. Amar não requer uma mente complexa, pois não se trata de um sentimento complexo. Requer uma mente aberta às diferenças, sadia e, sobretudo, simplória; humilde.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

viaja-se a Pasárgada

Fui-me eu embora para Pasárgada, como Bandeira pediu-me. Utopicamente, acreditei estar em um plano distante dos meus problemas físicos e psíquicos, porém, não gostei daquelas prostitutas cheias de enfermidades. Passaram-me bolhas que expulsam um fluido denso de coloração branco-amarelada; um pus de caráter viral. Das histórias que escutei, palradas pela mãe d’água, excitei-me. Eram cheias de maldades excêntricas; de frivolidades absurdas. Fui-me a Pasárgada e acabei encontrando uma realidade distinta daquelas escritas pelo tal Manuel. Eram rios imundos; lagos repletos de cadáveres flutuantes. Acho eu, que Bandeira estivera sob ação de aguardente; de uma bebida barata; um vinho mal fermentado quando descrevera Pasárgada. Voltei-me, então, à minha fossa; à sarjeta. Tirei de minha goela uma réstia de moral. Joguei-a em uma possa rasa de sangue coagulado e continuei a decifrar uma mágoa desconhecida.